COMUNHÃO COM DEUS: A VOCAÇÃO DE TODO BATIZADO 6h1611

Quando se falava em vocação, quase que automaticamente se pensava nas pessoas do Bispo, do Padre, do Diácono, dos religiosos. Felizmente, nos tempos atuais, vemos que a compreensão acerca da vocação tem se tornado mais clara, não está mais relacionada apenas à figura religiosa, mas também se compreende que os fiéis leigos são vocacionados. Porém, faz-se necessário relembrar que todos, pelo batismo, somos vocacionados à comunhão com Deus. 24t2

O Concílio Vaticano II, na Constituição Pastoral Gaudium et spes, nos relembra que “a razão mais sublime da dignidade do homem consiste na sua vocação à união com Deus. É desde o começo da sua existência que o homem é convidado a dialogar com Deus: pois, se existe, é só porque, criado por Deus por amor, é por Ele por amor constantemente conservado; nem pode viver plenamente segundo a verdade, se não reconhecer livremente esse amor e se entregar ao seu Criador”[1].

O pecado fez com que o homem se distanciasse de Deus e de Seu projeto de amor. Vemos que no livro do Gênesis, Adão e Eva viviam em plena comunhão com Deus, mas essa comunhão é perdida com a desobediência do primitivo casal. Apesar disso, Deus sempre manifesta seu amor aos homens, mesmo diante da sua rejeição.

Ao contemplarmos a História da Salvação vemos que Deus sempre deu o primeiro o indo ao encontro da humanidade: fez aliança com Noé; elegeu Abraão para congregar a humanidade dispersa; formou Seu povo Israel libertando-o da escravidão do Egito; falou pelos profetas; e enviou o Filho Jesus, mediador e plenitude de toda revelação. Como nos ensina o Concílio Vaticano II, na Constituição Dogmática Dei Verbum, Deus Se revela para que o homem tome conhecimento de Si e de Sua vontade:

Aprouve a Deus. na sua bondade e sabedoria, revelar-se a Si mesmo e dar a conhecer o mistério da sua vontade (cfr. Ef. 1,9), segundo o qual os homens, por meio de Cristo, Verbo encarnado, têm o ao Pai no Espírito Santo e se tornam participantes da natureza divina (cfr. Ef. 2,18; 2 Ped. 1,4). Em virtude desta revelação, Deus invisível (cfr. Col. 1,15; 1 Tim. 1,17), na riqueza do seu amor fala aos homens como amigos (cfr. Ex. 33, 11; Jo. 15,14-15) e convive com eles (cfr. Bar. 3,38), para os convidar e itir à comunhão com Ele[2].

Diante do exposto, é válido relembrar que pelo Sacramento do Batismo nos tornamos membros de Cristo. Por Cristo, no batismo nós recebemos a filiação divina, isto é, nos tornamos filhos no Filho. Com seu sacrifício redentor, Jesus restitui a amizade entre a humanidade e Deus; nos reconciliou com o Pai. Na obediência do Filho nós fomos justificados (cf. Rm 5,19).

Perante ao ato de Deus que nos oferece Seu amor nós somos chamados a dar uma resposta e essa resposta nos leva à comunhão com Ele. O homem só será plenamente realizado se corresponder ao amor para o qual foi destinado. É preciso que nos lembremos que fomos criados para Deus, e por isto, somente n’Ele está nossa realização, como nos ensina Santo Agostinho: “Fizeste-nos para Ti e inquieto está nosso coração, enquanto não repousa em Ti”.

Contudo, o homem só será plenamente realizado vivendo a vocação à comunhão com Deus. Fora do esforço de corresponder ao amor de Deus o homem sempre viverá de buscas. Buscará sempre se preencher, mas nunca será saciado. Deus nos dá a graça de participarmos da Sua vida divina por meio do Batismo, mas devemos nos esforçar para permanecermos n’Ele.

[1] CONCÍLIO VATICANO II, Constituição Pastoral “Gaudium et spes” sobre a Igreja no mundo atual, 1965, n. 19.

[2]Idem, Constituição Dogmática “Dei Verbum” sobre a revelação divina, 1965, n. 2.

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