A Comunidade Bom Pastor é a estrutura visível do Serviço Paroquial de Assistência fundado em 19 de março de 1950, vinculado à Paróquia Santíssima Trindade, na Vila das Graças. No artigo 3º de seu estatuto está definida a sua finalidade: “a dignificação da pessoa humana, notadamente os menores, idosos e carentes, elevando conjuntamente seu nível cultural, moral e religioso, por meio da assistência social e da gratuidade, propiciando-lhes a perspectiva de um futuro sólido e digno na sociedade”. Para conhecer melhor essa obra, conversamos com o Pe. Afonso Lobato, que foi uma figura importante para a revitalização do trabalho realizado pela Comunidade Bom Pastor, e com Wellington França Salgo, mais conhecido como Tenente Salgado, atualmente, vice-presidente da obra. 3y1s
O LÁBARO: Quando o senhor foi pároco da Paróquia Santíssima Trindade, deu uma importante contribuição para a revitalização e fortalecimento da Obra. Como foi esse tempo?
Pe. Afonso: Quando eu assumi a paróquia e vi que o serviço de assistência estava desativado. Foi quando, então, criei e motivei uma mística para aquele serviço envolvendo toda a comunidade. E a mística é a mística do Bom Pastor, que é a mística do cuidado, a mística da inclusão, a mística do afeto, a mística do Bom Pastor que acolhe e cuida da ovelha ferida, acolhe, vai atrás da transviada. Então essa é a mística, baseada em Ezequiel 34 e em João 10: o Bom Pastor que conhece as ovelhas pelo nome. Há, então, essa relação pessoal. Criei essa mística justamente para motivar e envolver a comunidade. O grande segredo é o envolvimento de toda a comunidade. A Comunidade Bom Pastor é uma obra social da paróquia. Não é uma obra social onde meia dúzia é responsável, mas, sim, onde tem o envolvimento de toda a paróquia. O segredo é a mística e o envolvimento da comunidade. Eu dizia para o pessoal: é na Igreja que a gente reza e escuta a palavra, e aqui é um lugar onde nós vivenciamos a palavra, uma maneira concreta de viver o evangelho. Lá se prega e aqui se vive a palavra de Deus.
O LÁBARO: A Obra do Bom Pastor é um trabalho social ligado à Igreja Católica. Qual é a importância do engajamento da Igreja nas causas sociais e como o senhor vê essa atuação eclesial hoje?
Pe. Afonso: De fato, a obra social é a maneira concreta de se viver o Evangelho, de se viver a fé. O Cristianismo não é uma fé que a gente professa na igreja a cada domingo. É um modo de viver, é um modo de ser. Caridade não é simplesmente você dar alguma coisa para ficar livre da pessoa, mas é assumir a sua causa. É uma forma da Igreja levar os fiéis a viver uma prática da fé. A caridade, a justiça social, é sempre uma forma de viver o Evangelho. Hoje, sinto que não tem o apoio que deveria ter. Há uma certa timidez, o envolvimento de poucas pessoas. E precisa ser uma obra social assumida por todos de maneira muito concreta. A pregação do Evangelho tem que se traduzir em gestos concretos.
O LÁBARO: Fale sobre como começou a sua relação com a Comunidade do Bom Pastor.
Tenente Salgado: Minha história com a Comunidade Bom Pastor começou na verdade em 1974 quando minha querida mãe me matriculou na Escola Paroquial, que fazia parte do Serviço Paroquial de Assistência. Estudei nesta escola mantida pela Paróquia Santíssima Trindade até concluir a 8ª série, que hoje é o ensino fundamental. Tive uma excelente formação escolar de forma gratuita por obra de nosso eterno Padre José Luiz. Ao me tornar adulto me formei em ciências Jurídicas e Sociais pela Unitau e ingressei na Polícia Militar do Estado de São Paulo onde percorri minha carreira indo para a reserva no posto de 2º Tenente. Ao me aposentar, fui convidado pelo Padre Fred a assumir a vice-presidência do Bom Pastor. Foi um convite que não pude recursar, apesar de saber que muitos eram os desafios pois estávamos no auge da pandemia, eu sentia que tinha o dever de retribuir tudo que a obra social fez por mim e meus irmãos enquanto crianças da comunidade que não tinham o a escolas particulares. Hoje, tenho uma grande honra de servir como vice-presidente da instituição que me formou, que me deu as primeiras oportunidades na vida.
O LÁBARO: Quais as ações que são realizadas atualmente pela Obra e qual é o impacto delas na comunidade?
Tenente Salgado: Hoje o Serviço Paroquial de Assistência – Bom Pastor não possui mais escola, entretanto temos para as crianças o projeto ‘Jovem antenado’, onde as crianças e adolescentes frequentam no contraturno das suas aulas regulares. Neste projeto as crianças possuem reforço escolar, aulas de informática num laboratório com equipamentos novos, educação física, comunicação por libras, ecologia, além de fazerem visitas a museus tanto na região do Vale como em São Paulo; esse projeto trás um impacto muito positivo pois os jovens têm a possibilidade de melhorar seus desempenhos na escola, tirando a possibilidade de ficarem na rua sujeitos às influências negativas. Para o público adulto temos os encontros semanais em nosso auditório, onde temas importantes são discutidos com mediadores capacitados. Na área do lazer, temos, todos os sábados, um show de prêmios beneficente voltado para o público de terceira idade. Possuímos também a farmácia comunitária, empréstimo de materiais médicos, como cadeiras de roda, cadeiras de banho, andadores, muletas, entre outros itens que são gratuitamente fornecidos às pessoas pelo tempo que for necessário. Atendemos também cerca de 60 famílias com apoio psicológico, e alimentos emergenciais que arrecadamos com a paróquia.
O LÁBARO: A Obra Social do Bom Pastor completou neste ano 75 anos de existência. Como foi celebrado esse acontecimento?
Tenente Salgado: No último dia 19 de março tivemos em nosso auditório uma cerimônia presidida por nosso Presidente Pároco Cônego Amâncio Calderaro Júnior, onde foram homenageadas pessoas que fizeram a história do Bom Pastor; homenageamos também pessoas que já faleceram e que tiveram grande importância na história do Bom Pastor. Neste evento tivemos a presença do Padre Afonso Lobato que durante sua gestão fez a Obra Social decolar, se tornando a grande potência que é hoje, tivemos a presença dos vereadores Dentinho, Nicola Neto e Ariel Kats que apresentou na Câmara de Vereadores uma Moção de Aplauso pelos 75 anos de existência da Obra Social.
Por Pe. Jaime Lemes, msj
