O sinal de Jonas 43t4w

O sinal de Jonas serve de advertência para aqueles cristãos que militam nas redes sociais, falando em nome de Deus “com sangue nos olhos”, hostilizando todos aqueles que consideram inimigos de sua fé e de seu modo de vida. 3y1958

Jonas não se aprofunda meditando a Palavra de Deus, foge do confronto com a verdade, foge da missão. A angústia do profeta não vem da dúvida, mas da certeza. Jonas sabe que Deus é misericordioso e comivo, lento para castigar e pronto para perdoar. Ele certamente conhecia o versículo “O Senhor é misericordioso e comivo, lento para a cólera e rico em bondade” (Sl 103,8). E mais, tinha conhecimento da bondade divina, da história de Israel e da revelação Divina.

“Pois eu sabia que és um Deus bondoso demais, sentimental, lerdo para ficar com raiva, de muita misericórdia e tolerante com a injustiça” (Jn 4,2). O profeta recalcitra movido por essa certeza e pelo ódio aos Ninivitas que ele não quer ver perdoados e salvos. A figura de Jonas talvez exemplifique a atitude de tantos cristãos que tomados pelo ressentimento buscam nos versículos da Bíblia apenas vieses de confirmação para sua atitude sem compaixão. No entanto, no seu íntimo está a certeza de que Deus quer a conversão e não a perseguição ao pecador, quer a salvação e não a condenação, quer a vida e não a morte. Afinal, Deus quer que o pecador se converta e viva. “Não tenho prazer na morte do ímpio, mas antes que ele mude de conduta e viva!” (Ez 33,11).

O mal de Jonas é percebido em atitudes cheias de ressentimento de quem se pretende defensor da vontade de Deus. Se Jonas sobe ao monte esperando ver cair sobre os ninivitas (os quais ele considera seus inimigos) o castigo divino, muitos cristãos esperam que Deus elimine seus inimigos os quais deveria considerar irmãos, principalmente os que pertencem à mesma fé. Como Jonas, querem que Deus seja instrumento da vingança que querem ver consumada em dor e sofrimento para aqueles que odeiam.

A história de Jonas é uma lição de moral para os que, como ele, se fecham numa religião que perde o horizonte da misericórdia, que está prisioneira de rancores, que reduz sua prática a ritos e palavras formais, que se pauta por rigorismo moral e legalista. Como Jonas se afastam da verdadeira Vontade de Deus que é o perdão e a misericórdia. Como Jonas fecham-se em suas certezas e não am ser contestados, preferindo navegar por mares de violência do que convencer-se de que Deus só quer a paz e a vida para todos.

Perderam de vista o verdadeiro modelo para um cristão: Jesus de Nazaré. E esse Divino Mestre que alerta para o perigo do sinal de Jonas (cf. Lc 11,29). Aos seus discípulos Ele ensina: “A vós que me escutais, eu digo: Amai os vossos inimigos e fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos amaldiçoam, e rezai por aqueles que vos caluniam” (Lc 6,27-28). Há discursos de gente que também afirma “eu digo”, mas suas palavras externam ódio, ressentimento e grosserias, pregam a violência. Como Jonas, sua intenção está a muitos mares distante do que pediu o Senhor.

Pe. Silvio José Dias

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